como se fosse a última vez

Quero sobrevoar o Oceano, ver as gaivotas voar e assim, desejar também eu ter asas.

Aprendi à muito pouco tempo que o passado é passado, e que não vale a pena massacrar-nos com pequenas mentiras, verdades ou amores.

Neste momento vou viver o presente, e talvez um pouquinho do futuro.

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Ali estávamos nós. Deitados pela primeira vez na cama que tínhamos comprado à um mês atrás. Depois de todas as discussões tínhamos conseguido dormir juntos mais uma vez. Quer dizer, eu não estava a dormir, simplesmente não conseguia. A minha mente era como um remoinho de pensamentos, que todos amontoados me davam insónias, insónias horríveis e dolorosas.

Tínhamos passado a semana toda a gritar, estava roca, tal como tu. A minha voz não aguentava nem mais uma nota tocada no "nosso" piano. Como um instrumento demasiado frágil que o mínimo toque de uma simples e delicada pena o poderia partir. Assim estava a minha voz, e o meu coração.

Coração? Pensando bem, o  coração é apenas um músculo que leva o sangue, que se está sempre a bombear a ele próprio todo o dia.

Guardei esses pensamentos só para mim, como uma caixinha.

Abri os olhos. Por momentos todos esses caminhos se tinham fechado. Tudo o que existia era eu, o silêncio e tu.

Olhei mais uma vez à volta, como o quarto estava vazio, sem remodelações, apenas nós e a cama. Levantei-me cuidadosamente, não te queria acordar, se o fizesse, seria doloroso ouvir mais uma vez a mesma história.

bebi um leite, olhei pela janela e vi o Sol a nascer. Como era lindo. Nesse momento lembrei-me do quanto eu te amava, e dos momentos que passámos, irracionalmente associados aos pôr-do-sol. Sentia o teu sorriso ao contornares, com os teus delicados dedos a minha face, como pela primeira vez.-

Voltei para a cama, arrastei todos esses pensamentos para longe, tal como a brisa que soprava forte lá fora. Voltei para a cama e simplesmente aninhei-me no teu corpo, abracei-te,

como se fosse a última vez