terça-feira, 11 de março de 2014

perdi-me no mar.

perdi-me no mar. ali estava eu num vago barco, que embarcava almas sem direcção. debrucei-me sobre o meu próprio reflexo, enquanto o horror percorria cada veia existente no meu corpo. não era eu naquele horroroso "quadro". jamais poderia ser eu. uma memória do que antes era o meu reflexo em nada se parecia com este novo. este exercia o papel de mostrar uma rapariga assustada, de olhar vazio, suja, morta. aquela não poderia ser eu. os meus repentinos reflexos perante tal imagem fizeram-me cair e embater contra a gelada e profunda água. nunca soube nadar, não seria naquele momento que o conseguiria fazer. debati-me contra as ondas que incidiam sobre mim, mas sem qualquer relutância em poucos segundos o fim do oceano, oceano desconhecido, esperava-me. perdi-me no mar. cada gota era como uma faca na minha garganta, uma dor atroz que me impedia qualquer respiração, qualquer sentido, mas ao mesmo tempo todos eles estavam alertas ao que se aproximava. sentia-me a morrer, cada parte ficando cada vez mais dormente numa mistura de cruéis memórias. internas. sem ponto de nascença. apenas morte. mas.. não estava já morta? finalmente a realidade embateu sobre mim. aquela dor jamais iria acabar. seria eterna. reviver a morte, vezes e vezes sem conta, sem um ponto por onde me agarrar, sentir aquela mágoa, aquela dor, aquela impotência, aquela sensação de não ser mais que um insignificante ser. mas já nem um ser sou. MATEM-ME DE UMA VEZ. cortem-me a garganta, ponham-me uma arma á cabeça e disparem sem piedade. por favor. esta dor não vai passar. porquê?

passaram horas, passaram dias, passaram semanas. os meus sentidos continuaram anestesiados como nos primeiros segundos, mas jamais deixaram de estar conscientes. habituei-me de certa forma. aquele azul do mar que me hipnotizava, nada mais á minha volta. já estava longe daquele longínquo barco, a kilómetros de distância. sem que nada pudesse fazer. os meus membros se haviam feito algum movimento esse não o senti. anestesiada sem qualquer ponto de abrigo. mas já não queria voltar. tudo é melhor que aquele reflexo. aquela era a minha nova casa, sem saber se estava viva ou já morta á muito.

fui-me esquecendo de tudo o que viera antes. tudo não passava de uma memória estúpida e infantil enterrada num jardim escondido por entre vedações, das quais jamais passaria, nem queria. já não queria voltar. jamais voltaria para aquele, agora nublado pelo tempo, barco cheio de almas penosas á espera do seu destino. recebi o meu, garantido ser melhor que muitos. aqui no mar, acabei por encontrar algo, a escuridão. aqui no mar... tudo é mais divertido.

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